A luta de Gui pela vida e pelo Cruzeiro

MOR IMENSURÁVEL

Dos 10% de chance de sobrevivência ao sonho de ver o Cruzeiro: a história de Gui

Torcedor é paranaense, mas tem raízes em Minas Gerais; ele superou um câncer no cérebro, diagnosticado aos 10 anos

Quem costuma ir aos jogos do Cruzeiro já percebeu haver torcedores que vêm de longe para ver o time, até mesmo de outros Estados. É o caso de Guilherme Kaíque, de 28 anos, cuja história de superação de vida o fez tomar coragem de viajar mais de 800 quilômetros para realizar um de seus maiores sonhos.

Sua história era desconhecida até então, até um mero cartaz que ele segurava no Mineirão, num jogo recente do time, fez sua imagem viralizar nas redes sociais. "Eu venci o câncer. Vim de Londrina/PR para conhecer meu Cruzeiro e apresentar minha história", escreveu. Agora, ela pode ser conhecida.

Trajetória

Gui, como é chamado, nasceu no Sul, mas sua vida possui raízes em Minas Gerais. Sua mãe é de Salinas, no Norte do Estado, enquanto seu pai é natural de Capelinha, município mineiro do Vale do Jequitinhonha. Curiosamente, o casal foi formado apenas no Paraná.

Há 17 anos, sua forma de enxergar a vida começou a mudar. "Em 2006, quando eu tinha 10 anos, eu recebi o laudo que mudaria a minha vida para sempre: de câncer no cérebro. O médico falou que ele era grande e estava profundo. Tive que sair de Londrina e ir para Curitiba para me tratar", contou ao O Tempo Sports.

Pior que o diagnóstico, foi a perspectiva dos médicos a seguir. "Eu operei no dia 26/06/2006, e me falaram que eu tinha apenas 10% de chance de vida e podia ficar vegetando", completou. Com fé, ele se agarrou a esses 10% e mostrou que podia superar as dificuldades, como uma depressão na época.

"Eu costumo dizer que Deus é simples e perfeito: simples no momento e perfeito no resultado. Não tem explicação o quão rápido que foi, ainda mais pelo SUS, onde as coisas costumam demorar. Entre dois e três meses eu já estava fazendo a cirurgia", relembrou Gui.

"Tive que fazer quimioterapia e radioterapia. Fiquei um ano fazendo tratamento forte, e minha família teve que praticamente parar tudo, como trabalho, para cuidar de mim. Foi muito difícil para todo mundo, mas hoje sou uma pessoa feliz, apesar de ter que me adaptar ao mundo novamente", completou.

O Cruzeiro

Como é de se imaginar, o amor pelo Cruzeiro veio de seu pai, mineiro. "Quando eu era criança, comecei a gostar do Cruzeiro, principalmente devido ao meu pai, que morava em Capelinha. Ele nunca me forçou a nada, deixou eu escolher", contou.

Os anos se passaram, e, em 2022, durante a campanha que reaproximou o clube da torcida, surgiu a vontade no paranaense de ver a equipe atuar de perto. Juntou dinheiro e conseguiu comprar passagem para viajar a Belo Horizonte neste mês de outubro, quando, de quebra, alcançou outros objetivos: viajar de avião e conhecer o Mineirão.

Além do famoso tour pelo estádio, ele já foi a dois jogos: diante do Flamengo, quando seu cartaz ficou conhecido; e contra o Bahia. O próximo será perante o Internacional, no próximo domingo (5/11), antes de retornar a Londrina, onde é técnico em administração e vendedor de produtos de beleza. Em BH, está morando na casa de uma tia.

Daqui para frente

Os sonhos de Guilherme não pararam por aí, em especial os ligados aos seu clube de coração. "O meu maior sonho é conhecer a Toca da Raposa e todos os funcionários, desde a tia da limpeza, aos jogadores, a comissão técnica, a diretoria, até o Ronaldo, pois sou muito fã dele", falou à reportagem.

Além disso, ele também quer fazer a diferença no mundo. "Quero ser palestrante. Quero chocar pessoas e ajudá-las a realizarem os seus sonhos. Pessoas precisam de pessoas. Assim como eu precisei de pessoas para estar aqui hoje, eu sei que pessoas precisam de mim para continuarem", concluiu.

O Tempo 31out23

Por Gabriel Moraes e André Willis