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A magia do Natal

GISELRE BICALHO


Com o Natal pertinho, o coração da gente parece ganhar vida própria. Bate tão forte que quase sai do peito. É um tal de “baticunduparacundum”, de um “turu turu” no meu peito” que não acaba mais. Lembranças demais. Uma avalanche delas. Quase soterram a gente. E muito amor resgatado.


Por aqui, tudo começa mais cedo. Lá pra outubro o Natal já começa a pautar as conversas daqui de casa.


- E o Natal, heim? Tá pertinho, diz uma das irmãs.


- É mesmo, né? Confirma a outra.


- Ihhhh, esse vai ser mais um ano de lembrancinhas. Êta fase dificil! Nos últimos tempos tem sido assim.


- Que pena, lamenta a terceira, que sugere: o jeito é a gente apelar para o amigo oculto.


A mais pragmática diz:


- Isso dá trabalho, mas não há outra saída. A gente dá presentes para as crianças e os adultos entram no sorteio do amigo oculto. Temos que começar a pensar na montagem da árvore, nos enfeites da casa, na ceia.


- Pra ceia nem precisa, uai! O cardápio é o mesmo desde que a gente se entende por gente, diz a outra.


Todas riem da afirmação. É quase uma piada familiar.


- E você, Gisele, que é dada a invencionices na cozinha, nem ouse excluir a farofa de biscoito cream cracker. E nem pensar em cortar o tutu de feijão. Isso vai dar briga na certa. O Beto e o Bernardo não vão nos perdoar, orienta uma das seis irmãs.

Quando Papai estava por aqui sempre entrava nessa parte da conversa e dizia:


- Ceia tem que ter pernil e frango assado. É de lei. Afinal, essa é uma família mineira.


- Pode deixar a sobremesa comigo. Vou fazer a mousse de vinho igualzinha aquela do ano passado. Na nossa família, todo mundo ama, né? Não pode faltar, lembra uma das sobrinhas.


E lá vem a pragmática de novo:


- E ainda tem as frutas, as castanhas, as bebidas. Precisamos fazer uma lista.


A partir daí os dias passam a correr acelerados até que novembro chega e com ele o Advento. Fim do planejamento. Hora de botar a mão na massa de fato.


Papai se preocupava com as luzinhas da varanda. A Denise, com a árvore. Detalhe: ela quer sempre uma árvore maior. Nunca está satisfeita. Sempre quer uma bem grandonas, igual aquelas dos filmes da Sessão da Tarde. Bobagem. De tanto ela reclamar, atualmente temos uma com quase dois metros de altura. Tá de bom tamanho.


Com a árvore montada, os galhos começam a ganhar vida. Os enfeites são lindezas que herdamos da mamãe. Pedacinhos de saudade. Outras peças vieram na mala. Recortes de uma viagem inesquecível. Impossível deletar da memória a visita à Feira de Natal de Salzburgo. E não é só a feira. A Áustria inteira parece mesmo um presépio. Por lá tudo é muito lindo. Não resisti à delicadeza dos enfeites de madeira pintados à mão. Comprei alguns.


A árvore ficou linda. Mas falta o toque da Jacq. É pra ficar mais encantadora ainda. Já sabemos que ela vai colocar aquele monte de urso para compor a cena.


- Aí, me Deus! Rezando aqui pra Jacq esquecer daquele bem grandão. Acho que não vai caber, receia a Denise. Desconfio que esse irmão vai “tomar chá de sumiço” por alguns dias. A conferir.


O presépio também já foi instalado. Está em um lugar de destaque na casa. Estratégia pra ninguém esquecer do sentido da festa. O Menino Jesus permanece deitadinho na manjedoura. Mas, tadinho! Deve estar mortinho de frio. Continua à espera das palhas que não virão. Tem sido assim desde que crescemos. Quando crianças, a cada boa ação realizada, a cama do Menino Jesus ganhava mais uma palha. Ideia de gênio da Mamãe. Era para trazer um pouco de paz à família. E dá-lhe palha. No Natal era tanta palha que mal se via o Jesus Menino. Ele ficava praticamente soterrado. Mamãe, irônica que só ela, elogiava:


– Filhos de ouro. Uma legião de “anjinhos”. Só que têm data de validade. Depois do Natal a vida voltará ao normal. E é só Deus na causa.


Até tentamos resgatar a tradição com os sobrinhos. Nada feito. São outros tempos. Fomos vencidos pelos Robloxs, K-pops…. Sem drama. E assim mesmo.


Só como curiosidade, bora fazer uma busca na internet para conferir os preços das cestas de Natal, outra tradição da família. Impossível. Preços nas alturas. Fica pro ano que vem. Nesse, a exemplo do ano passado, do retrasado ... nada de cestas. Tem problema, não.


Se não tem cesta, que nos fartemos com as lembranças das cestas da nossa infância. Presentes do Tio Chico. Vinham lá do Rio de Janeiro. Chegavam pelo Correio dias antes do Natal. Vovô Nenen fazia desse presente mais um ritual. No dia 25, logo após o almoço, abria a cesta em uma mesa com banquinhos. Ficava no fundo do quintal, à beira do rio Pará. A gente se embolava ali com os brinquedos que Papai Noel tinha deixado na árvore e haja doces, biscoitos, castanhas pra dar conta de tanta gula … tudo era uma delícia. Tudo era mágico. Como o Natal.

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7 Comments


Olha 2024 ai, minha gente!


Gisele Bicalho


A gente nem piscou e 2023 já está no fim. Êta ano difícil, meu Deus! Aliás, como diria a Kátia, “não está sendo fácil”. A sorte (se é que eu posso chamar de sorte) é que esses quase 365 dias passaram voando. Correram rápido demais. Será que essa percepção é só minha? Sei não, viu? Aposto que você já ouviu alguém dizendo:


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