top of page

Natal no vale do Rio Pará

Peras anunciam a magia do Natal

. GISELE BICALHO

.

Daqui a pouco já será tempo da colheita de peras na casa da Vovó Cocota. O pé existe há mais de um século. É incansável.


Se no Natal da nossa infância as peras eram colhidas pelo Vovô Nenê, hoje a tarefa ficou para o Tio Francisco. A cada pera doada, um gesto de amor que conforta o nosso coração e nos devolve à infância que ficou lá atrás.


Nessa época do ano a abundância não se resume apenas às peras. Temos mangas, lichias e a uma overdose de lembranças.


E só puxar pela memória que lá vêm elas como numa avalanche. Em nossa casa, durante o Tempo do Advento, móveis da sala cediam espaço para abrigar a árvore de galho seco, amorosamente enfeitava pela Mamãe. Ela pendurava bolas coloridas e frágeis nos galhos. E, sobre eles, acomodava tufos de algodão que remetiam à neve de lugares distantes de onde vinha o Papai Noel.


Por falar nele, só tardiamente descobri a sua verdadeira identidade. Aos nove anos, a revelação que me deixou chorosa e atordoada por dias, foi feita atrás de uma porta, pela minha amiga Aparecida. Não por acaso, ainda hoje, a ingenuidade ainda me traduz. Nem a maturidade deu um jeito nisso.


Na noite de Natal a ansiedade era tanta que o sono demorava a chegar. O dia mal amanhecia e a gente já estava lá, em torno da árvore, todos maravilhados com as bonecas, jogos de montar, panelinhas, carrinhos …


Em um dos Natais ganhei um jogo de perguntas e respostas, uma espécie de roleta, que durante muitos meses fez de mim a menina mais “inteligente” entre as irmãs, primas e amigas.


– Quem trouxe o café para o Brasil?


– Francisco de Melo Palheta.


– Quem descobriu o caminho para as Índias?


– Vasco da Gama, respondia prontamente para a surpresa de todos.


E de onde saiu tanta sabedoria? Da roleta de conhecimentos gerais, of course. De tanto usar, já estava praticamente decorada.


Mas, voltando ao baú de memórias, depois de abrir os presentes, era hora de brincar como se não houvesse amanhã. E, mais tarde, como num ritual repetido ano a ano, Vovô finalmente abria a cesta que o Tio Chico mandava pra ele do Rio de Janeiro. Tudo acontecia à beira do Rio Pará, em uma mesa construída pelo Vovô para os nossos piqueniques. Da cesta saiam balas doces, panetones …. sabores e perfumes ainda hoje eternizados na memória.


Depois vinha o almoço, o café da tarde e mais brincadeiras.


Mudou alguma coisa? Muito. Meus pais, meus avós, minha mãe, dois irmãos e tios atenderam ao chamado do Pai e se foram; os galhos secos foram substituídos por árvores chinesas, a mesa está em ruínas, as cestas perderam a magia e hoje podem ser compradas em qualquer supermercado ou em site de vendas; Papai Noel não usa mais o trenó e hoje mora ora num shopping, ora em outro.


E a magia do Natal? Ah, essa continua viva e se perpetua no brilho dos olhos dos meus sobrinhos sobrinhas e sobrinhos netos. Para a Rafaela e para o Miguel esse será só o primeiro. Que venham muitos outros.

Posts recentes

Ver tudo
Ano Novo

Eugênio Sette Quando Você pousar os olhos nesta crônica, terei envelhecido um ano, porque sou dos muitos que amanhecem o Ano Novo...

 
 
 
O cidadão de dois reinos

PAULO SANCHOTENE . Pessoal provoca, e há sempre quem caia Eu até iria escrever sobre outro tema, mas as colunas do Israel Simões sobre o...

 
 
 

19 comentarios


Crônica De Ano Novo


Luis Fernando Veríssimo


Crônica De Ano Novo (Luis Fernando Veríssimo)

“Existem muitas superstições sobre a melhor maneira de entrar o Ano-Novo. Na nossa casa, por exemplo, nunca falta um prato de lentilha para ser consumido nos primeiros minutos do ano que começa. Dá sorte. Ouvi dizer que na Espanha, ao soar da meia-noite, deve-se comer uma uva para cada badalada do relógio. Este costume chegou à Bulgária mas, por uma falha na tradução, lá se come um melão para cada batida do relógio, e os hospitais ficam cheios no dia 1º. Na Suíça, comem o relógio.


Algumas crenças persistem através do tempo, desafiando toda lógica. Se o champanhe aberto à meia-noite não estourar e se tiver…


Me gusta


RETROSPECTIVA... O Cruzeiro viveu um 2024 com misto de sentimentos. Teve decepções no primeiro semestre, viveu momento de destaque no futebol nacional, sonhou com voos altos após mudanças na SAF, mas terminou a temporada novamente com um gosto amargo. O ge traz a retrospectiva do movimentado ano cruzeirense.


Cruzeiro se assusta com condições para ter Adryelson e segue busca por zagueiro; veja valores

O ano do Cruzeiro começou mirando um pequeno salto de expectativa esportiva sob comando de Ronaldo Fenômeno, após conquistar os objetivos de 2023, com permanência na Série A e vaga na Conmebol Sul-Americana. Nicolás Larcamón foi o técnico escolhido para tocar o projeto, que contou também com um pequeno aumento no investimento.


A diretoria buscou nomes no…


Me gusta

Matheus Penido
Matheus Penido
25 dic 2024

Falando um pouco mais de ideologias. O conservadorismo teve Churchill que venceu o fascismo, Adenauer que venceu a recessão alemã pos guerra, Tatcher que venceu a recessão e a baderna britânicas e Reagan ajudou a derrubar o muro de Berlim. Todos conservadores, nenhum parado no tempo. Nenhum deles prometeu um mundo cor de rosa, mas todos entregaram reformas que melhoraram seus países. Desafio o Rocha a citar socialistas do mesmo calibre que tiveram sucesso nos seus intentos.

Me gusta

Matheus Penido
Matheus Penido
25 dic 2024

Não me interessa o técnico das francas. Quero ganhar o Mineiro. Espero que esse desejo não seja classificado como "infantil" pelo Diniz.

Me gusta
bottom of page