O sobrevivente Judivan passa bem, obrigado

Judivan, atacante de 28 anos, ex-Cruzeiro, reencontra sua vocação de goleador jogando pelo Pattaya Dolphins, da Tailândia.

Em 2015/2016, o Chelsea poderia ter ganhado mais um brasileiro no elenco de José Mourinho/Guus Hiddink. A venda de Judivan, então com 19 anos, estava autorizada pelo Cruzeiro por R$60 milhões. Mas uma lesão sofrida no Mundial Sub-20, devido a uma entrada violenta do uruguaio Maurício Lemos (hoje no Atlético), mudou os rumos da vida e carreira do atacante.

Em entrevista ao ge, Judivan contou um pouco da vida no Sudeste Asiático em um país muito conhecido pelas praias, mas com pouca tradição no futebol. Ele atua pelo segundo ano na Thai League e se diz muito feliz a mais de 25 mil quilômetros do Brasil.

"Estou vivendo um momento muito bom na vida, na carreira. Estou feliz jogando. Está correndo tudo bem com minha vida fora de campo. Há alguns meses, de férias no Brasil, muita gente me perguntou se quero voltar. Mas, agora, isso nem passa pela minha cabeça. Pode ser que isso mude, mas não agora."

Desde a lesão que o tirou da possibilidade de jogar na Premier League, Judivan passou por cinco cirurgias entre 2015 e 2017. Ele contou como foram os dois anos e meio sem atuar.

"Eu estava num bom momento. Estava na Seleção, jogando meu melhor futebol, e sendo negociado para a Inglaterra. Dois anos sem jogar são uma eternidade para um atleta. Eu chegava todos os dias às 8 da manhã para a fisioterapia e só voltava pra casa às 21h. Era bem sofrido, bastante dolorido. Era complicado ficar sem treinar com bola e jogar. Na época da lesão, eu estava na Seleção, enquanto meu empresário negociava meu passe, com autorização do presidente Gilvan."

A volta aos gramados ocorreu em 2017. No primeiro jogo, entrou no segundo tempo e marcou um gol de pênalti contra o Avaí. Ao todo, até setembro de 2020, quando acertou a rescisão com o Cruzeiro, disputou 28 jogos e fez com 2 gols.

"Tinha acabado de entrar no jogo, aconteceu o pênalti... parece que Deus colocou tudo para mim. Os jogadores me deram a bola para bater. Passou um filme na minha cabeça. Estava há dois anos e meio sem jogar. Fazer o gol, ver a torcida gritar meu nome e ver os jogadores me abraçando, foi mágico. Guardo com muito carinho."

As lesões, segundo Judivan, ficaram para trás. Entretanto, segundo ele, sempre é preciso manter os cuidados para evitar novos problemas nos dois joelhos.

"Já tem uns anos já que esqueci que tenho joelho (risos). Graças a Deus, nunca mais senti nada. Mas tenho que cuidar, tenho que continuar fazendo fortalecimento. É o meu terceiro ou quarto ano jogando direto, sem lesão. Tem sido muito bom."

As lesões foram embora, e os gols ficaram mais frequentes na carreira de Judivan. Antes de jogar na Tailândia, ele ainda atuou em Malta, uma ilha no Mediterrâneo.

"Joguei 27 partidas, fiz 19 gols em Malta. Aqui atuei menos, porque o clube colocou o Sub-20 nas Copas. Joguei só a Liga, fiz 12 gols em 17 jogos. Foi muito bom. Este ano, comecei a bem a temporada, sou artilheiro da Liga, com 10 gols."

O futebol da Tailândia, segundo Judivan, é muito físico e explora bastante a velocidade dos jogadores. Na temporada passada, ele atuou pelo Khon Kaen, atualmente está no Pattaya.

"Tenho contrato de uma temporada, mas com este bom início, o clube já pensa em renovação. Mas isso deixamos mais pra frente. Estou focado em cumprir essa temporada, e aí, na próxima, a gente vê o que vai acontecer.

Aqui, em quase todos os times, tem um brasileiro e a gente faz amizade. No meu time, tem eu e o Alex Flávio, zagueiro, que fez base comigo no Cruzeiro e subimos juntos. Ano passado, ele chegou à Tailândia e coincidiu de, neste ano, jogarmos no mesmo time. Tem outro estrangeiro também. É bem legal o convívio com outros brasileiros, tem alguns que fizeram base comigo e estão aqui."

Aprender uma língua estrangeira foi importante para a adaptação do jogador fora do Brasil. O que ainda não foi possível acostumar totalmente foi com a culinária do sudeste asiático.

"Aqui, tem um prato, o Khao Pad, que é como um arroz temperado. É o que eu mais como. Eles colocam cebola, vegetais, frango. Dá para comer tranquilo. No meu dia a dia, eu cozinho, faço a minha comida em casa. Quando saio, sempre procuro comer a comida mais parecida com a do Brasil. Aqui tem muita comida diferente. O que comi, de mais diferente foi escorpião. Os tailandeses não têm costume de cozinhar, eles gostam de sair para comer. Aqui tem umas barracas de comida, que estão sempre cheios. Você vê rato, barata, escorpião... os tailandeses comem. Mas, pra mim, não dá!"

Judivan ficou no Cruzeiro entre 2009 e 2020, terminando a formação de base no clube e também atuando pelo profissional. O jogador afirma ter eterna gratidão pelo clube que o revelou e pelo qual fez parte do elenco tetracampeão brasileiro em 2014 e da Copa do Brasil de 2017.

"Um clube que carrego comigo, com muito carinho. Fiquei 10 anos no clube. Sempre falo com amigos e família que é um clube ao qual devo tudo. Tudo que tenho é por causa do Cruzeiro. Na época da minha lesão, no momento mais difícil da minha vida, Cruzeiro sempre me deu o suporte. Talvez, em outro clube, não teria o suporte que o Cruzeiro me deu e eu conseguiria voltar. Então, tenho muita gratidão."

O final da passagem de Judivan foi mais conturbado em virtude da grande crise financeira e política pelo qual o Cruzeiro passou a partir de 2019.

"Foi um momento muito conturbado. Eu vivi momentos de muitas glórias no Cruzeiro, em 2014, 2017, quando o clube sempre estava brigando por títulos. No meu final, estava bem conturbado. Eu cresci no Cruzeiro e ver o clube passar por aquela situação estava bem difícil. Foi o momento mais complicado..."

O atacante conta que, apesar de ter saído do Cruzeiro há três anos, ainda recebe o carinho do torcedor. Com o filho morando em Belo Horizonte, o jogador diz que, quando pode, também vai acompanhar jogos do Cruzeiro.

"Eu sempre acompanho. Meu filho é de BH. Então, sempre vou. Quando saio na rua a torcida sempre demonstra o carinho. Nas redes sociais, torcedor sempre me manda mensagens."

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